segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma poesia de Vinicius

Sempre actual nestes momentos de chumbo e morte que se vivem em 2015 na Ucrânia, e no Médio Oriente.

Quando o publiquei em 2009 as guerras eram outras. Nada mudou apenas os locais onde se desenrolam!


Rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rosas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti – rosa atómica
Sem côr sem perfume
Sem rosa sem nada .

Vinicius de Morais




Vê o Vídeo e entra em acção


terça-feira, 20 de outubro de 2009



Percursos pela Igualdade

A maioria dos portugueses encara com pessimismo o recrudescimento da pobreza e mostra-se pouco crente numa inversão do quadro actual, sugere um inquérito desenvolvido pela Amnistia Internacional Portugal em colaboração com a Rede Europeia Anti-pobreza e a Universidade Técnica de Lisboa.

Os jovens em busca do primeiro emprego estão entre os mais vulneráveis.


O estudo da Amnistia Internacional Portugal, desenvolvido em parceria com a Rede Europeia Anti-pobreza e o Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia e Gestão, tem por base uma amostra de 1.350 pessoas com 18 anos de idade ou mais e de 19 freguesias escolhidas de forma aleatória em todas as regiões do país.
Dos resultados preliminares do inquérito sobre "percepções da pobreza em Portugal", cujo conteúdo é revelado pela agência Lusa, ressalta uma conclusão: "Os portugueses sentem a pobreza e sentem-na numa proporção preocupante".

Setenta e sete por cento dos indivíduos inquiridos manifestam escassa ou nenhuma esperança na capacidade de recuperar de situações de pobreza. Setenta e cinco por cento consideram que o quadro regrediu nos últimos cinco anos e outros 50 por cento mostram-se convictos de que a situação vai continuar a ensombrar-se.

Quanto à percepção da intensidade e da extensão da pobreza, 59 por cento dos inquiridos situam a percentagem de pessoas pobres entre os dez e os 40 por cento. Quarenta por cento acreditam que metade da população vive em situação de pobreza. Somente seis por cento dos inquiridos descrevem como "miséria" a pobreza existente no país.

Novos grupos vulneráveis

No que toca à designação dos novos segmentos da sociedade mais vulneráveis à pobreza, 83 por cento dos portugueses inquiridos destacam os jovens à procura da primeira colocação no mercado de trabalho.

Se há duas décadas a percepção de vulnerabilidade recaía sobre os deficientes, doentes crónicos e minorias étnicas, a ideia que hoje prevalece estabelece um nexo entre a situação profissional e a pobreza. Em suma, a maioria dos inquiridos considera que a luta contra o fenómeno deve privilegiar a criação de postos de trabalho e o investimento público na formação profissional, no sector educativo e nos cuidados de saúde.

Já no que diz respeito à situação dos próprios inquiridos, os autores do estudo deixam também uma nota de preocupação. Vinte por cento dizem estar em risco de pobreza, enquanto sete por cento afirmam viver uma pobreza explícita e um por cento uma situação de miséria. Cinquenta e dois por cento afiançam viver com algum conforto, o que pode merecer duas leituras - uma resistência em reconhecer situações de pobreza ou a aceitação de uma situação de conforto reduzido.

Sinais de pobreza e atribuição de responsabilidades

Os inquiridos no estudo da Amnistia Internacional Portugal referem, como indicadores de pobreza, factores como a falta de água, de casa de banho ou de luz eléctrica. De acordo com o estudo, "a inexistência de condições mínimas da salubridade continua a ser o indicador de pobreza mais consensual, não havendo ainda menção alargada a formas de pobreza mais modernas".

Na óptica dos autores do inquérito, os resultados agora conhecidos tornam imperativa uma intervenção junto da opinião pública: "Não podemos esquecer que os conceitos de pobreza e de exclusão social são construídos e delimitados pelo mundo dos que se julgam incluídos. É aqui que é preciso, prioritariamente, actuar, não esquecendo os velhos pobres".

Grande parte dos inquiridos sustenta que cabe ao poder político apresentar soluções. Para a Amnistia Internacional e a Rede Europeia Anti-pobreza, isto significa que o país pode estar confrontado com uma desresponsabilização generalizada dos cidadãos face às situações de pobreza - uma percepção assente em afirmações como "eu pago os meus impostos, o Governo que resolva", ou "eu não tenho nada a ver com isso".

As organizações preconizam, por isso, a instituição de uma cultura social de co-responsabilização.


in site da RTP 1

Percursos de Liberdade

Os pecados do Haiti

Por Eduardo Galeano *


A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca idéia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito com um voto sequer.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:

– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.

O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:

– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.

A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".

A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.

O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolívar, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar conseguiu reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pênis. A essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perda por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, ...... tem dimensões de tragédia,


* escritor uruguaio, autor da obra "As Veias Abertas da América Latina"

Tradução publicada no site da Agência Carta Maior, do original do jornal Brecha 556, Montevideo, 26 de julio de 1996.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Percursos de vida


CONTA-ME COMO FOI...... 1959


O ANO EM QUE NASCI



12 Janeiro – Humberto Delgado pede asilo político na embaixada do Brasil


Henrique Galvão, em regime de prisão, foge do hospital de Santa Maria. Pede asilo político na embaixada da Argentina e parte, depois, para o exílio.


Petição nacional para a demissão de Salazar. A PIDE promove a detenção de dezenas de pessoas


Marcello Caetano torna-se Reitor da Universidade de Lisboa


Revolta da Sé com Manuel Serra e o major Calafate, em março.


Cartas Abertas de Católicos sobre os serviços de repressão do regime.


União Nacional promove homenagens a Salazar no dia do seu 70º aniversário.


Inaugurado Monumento ao Cristo Rei,


Repressão de estivadores no porto de Bissau, ponto de partida para a guerrilha na Guiné.


Lei nº 2 100. Eleição do Presidente da República por colégio eleitoral


Processo judicial contra Aquilino Ribeiro pela publicação do romance “Quando os Lobos Uivam”, acusado de criticar o Estado Novo face ao processo de expropriação dos baldios


Humberto Delgado visita Londres a convite dos trabalhistas. Visita também a Holanda, mas não obtém autorização para visitar outros países ocidentais


INTERNACIONAL


Janeiro

1 Triunfo da revolução castrista em Cuba.


3 Entrada triunfal de Fidel de Castro, em Havana


26 PSI rompe pacto com PCI, em Itália


27 até 5 de Fevereiro, XXI Congresso do PCUS. Ataque ao grupo antipartido (Malenkov, Molotov). Aprovado no plano para Sete anos. Declaração final: o socialismo alcançou na URSS uma vitória total e definitiva.


· Fevereiro
16 Fidel Castro, Primeiro Ministro de Cuba


· Março
17 Sublevação anti-chinesa no Tibete


· Abril
1 Inaugurado, em Espanha, o monumento do Vale de los Caídos


3 Dalai Lama foge para a índia


15 Fidel Castro visita os USA


Junho
15 URSS denuncia acordo de cooperação atómico com a República Popular da China


· Setembro
12 Lunik2 soviética atinge a lua


16 De Gaulle reconhece o direito à auto-determinação da Argélia


25 Encontro de Camp David entre Khruchtchev e Eisenhower


30 até 4 de Outubro, Encontro entre Mao e Khruchtchev


· Outubro
26 Começa conflito fronteiriço entre a China e a União Indiana


· Dezembro
30 Adenauer, Eisenhower, De Gaulle e MacMillan, reunidos em Genebra, convidam Khruchtchev para uma cimeira; o convite é aceite. Inicio a Guerra Fria.


· Ainda em 1959...


- Forma-se a organização Euzkadi Ta Azkatasuna ( ETA )

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008



O QREN já cá canta na Mouraria

Quem havia de dizer que quase 2 anos depois deste movimento nascer, teria a dimensão que agora tem, conjugando em seu torno moradores das freguesias do Socorro,de S. Cristóvão, e de Sta Justa, como nunca se tinha feito até hoje.

Nasceu de uma conversa informal de dois moradores descontentes, e com vontade de fazer algo pelo seu bairro.

Foi-se falando com vizinhos, com amigos que se aproximaram a pouco e pouco, com comerciantes meio desconfiados, mas que foram ganhando animo e confiança neste projecto.

Em Fevereiro de 2008, surge o blog , algum tempo depois as primeiras noticias nos jornais.

Pouco depois a petição em papel começa a recolher assinaturas.

Num belo dia de sábado, de repente e sem ninguèm esperar, um grupo de uma centena de moradores desfila no bairro, e faz a festa com os Farra Fanfarra, noite de fados, capoeira, e tudo isto feito por todos os intervenientes de uma forma SOLIDÀRIA.

Avançamos de reunião em reunião, de notícia em notícia, e o bairro é falado por toda a gente.
As forças politicas agitam-se, os interesses estremecem, o movimento Renovar a Mouraria, é puro, genuíno, popular sem ser populista, divertido, confiante.

Em Março a marcha do movimento já é avassaladora, as assinaturas já se contam aos milhares, e o movimento dá origem à ASSOCIAÇÂO.

Um dia recebo um mail. Abro-o e leio espantado um convite da Câmara para uma reunião a decorrer no Campo Grande. È a primeira de muitas.

Mais reuniões. A Festa nos Anos 60 corre muitissimo bem. Decidimos fazer o Arraial porque era preciso “avisar a malta”.

E assim acontece durante 11 dias, o Largo da Rosa, enche-se de cor, de alegria de festa, práticamente duas dezenas de artistas,da mùsica ao cinema, do teatro à dança, fazem deste arraial que foi considerado o 2º melhor de Lisboa, uma mensagem para todos os que anseiam RENOVAR A MOURARIA, à margem dos partidos, usando a voz do povo, usando a vontade de mudar como ferramenta de uma transformação global no bairro.

Um partido apresentou uma proposta à Câmara, que foi chumbada. Dias depois interviemos na sessão de Câmara no Ateneu Comercial, e houve um aceso debate sobre o bairro.

A Actividade da Associação não parou mais, e neste momento a nova sede na Rua da Mouraria, nº 30, é o ponto de encontro de todos quantos lutam por um bairro melhor e mais solidário.
Qren assinado e protocolado, Já só falta executar.





No dia 19 de Março 2008 foi fundada a Associação Renovar a Mouraria

Conheça os seus fundamentos no nosso site



sábado, 29 de setembro de 2007

PERCURSOS DE POESIA

Nascido em Lisboa, em 1959, no mês de Janeiro, mês dos gatos, numa época em que em Portugal se viviam tempos difíceis, e em Cuba se assaltava o Quartel Moncada, pela mão de Ernesto Che Guevara, mudando o rumo da história do Mundo, depressa conheceu na escrita e na poesia, uma forma alternativa de se expressar e de deixar um testemunho neste mundo, tentando através dela deixar uma mensagem:

Fazer-se ao caminho, com o sol no rosto, olhando a vida de frente, um PERCURSO de vida.







ZECA I

TU QUE AINDA ERGUES NA TUA VOZ
A CERTEZA DA RAZÃO .
FILAS E FILAS DE CORPOS MUTILADOS
Á ESPERA DE JUSTIÇA .
MIÓSOTIS DE LOUCURA DESFRALDADA
NUM DIA DE ABRIL
ESCUTA-ME COMPANHEIRO E IRMÃO ,
ESCUTA-ME PORQUE TU EXISTES .
VAMOS FESTEJAR-TE A VIDA
NAQUELE SÍTIO DO COSTUME
ONDE TE ENCONTREI TANTAS VEZES
A SONHAR .

ZECA II

MORREM-NOS OS POETAS NA CALADA DA NOITE
E DEIXAM-NOS PRÁ AQUI
PERDIDOS
NAS BRUMAS DA NOTÍCIA
NO DESESPERO DA REALIDADE
E SÓ NOS APETECE CHORAR.
GRACIAS A LA VIDA !
PORQUE SÓ A MORTE
NOS DÁ A DIMENSÃO DO EXISTIR !

do autor


POESIA OCULTA

OCULTO A MINHA POESIA
NO REGAÇO DA NOITE ,
E DELA FAÇO O QUE QUERO .
POR VEZES SAIO .
VOU ATÉ Á PRAIA
BRINCO NA AREIA
E PARTO PARA LONGE DE MIM MESMO .
O TEU OLHAR
É UM POEMA SEM SENTIDO
E A VIAGEM QUE EU FAÇO NELE , TAMBÉM .
A INDISCRITÍVEL INOCENCIA DAS PALAVRAS .
TRAI-ME .
EXPONHO OS SENTIMENTOS
NO ESTENDAL DA ROUPA
PONHO-LHES MOLAS PARA NÃO VOAREM .
NO CÊU AZUL
GRACEJAM GAIVOTAS
E OS SENTIMENTOS HÚMIDOS
DAS NOITES LOUCAS QUE VIVI
AGITAM-SE COMO CARRILHÕES SONOROS .
QUEM ME DERA AMANHÃS PARA SEMPRE

do autor





PÚBIS
MERGULHO NOS TEUS OLHOS
EM CADA OLHAR ,
NO DIA A DIA .
TENTANDO ESQUECER-TE
Ó GAIA ,
MÃE NATUREZA , MULHER FRONDOSA .
ERGUES OS TEUS DEDOS
COMO RAMOS NO CÉU .
E AS ESTRELAS BEIJAM-NOS ,
TAL COMO EU .
DESCANSO Á TUA SOMBRA
SENTINDO A TUA PÚBIS
DE MANSINHO NO MEU ROSTO .
BEIJO-TE O CLITÓRIS
Ó TERRA
E O TEU ORGASMO
BEBO-O .
COMO É BOM VOAR NO ESPAÇO ,
EMBALADO ,
PELO SOM DOS TEUS CABELOS .


do autor


Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,

Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,

Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus

(Banal imagem) as colinas!

Com donaire avançam os teus seios,

Ó minha embarcação!


Porque não há

Padarias que em vez de pão nos dêem seios

Logo p'la manhã?


Quantas vezes

Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios!

Toda a noite

Com inveja um do outro, toda a santaNoite!


Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios

Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos

Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos


Como um orgulho que há-de rebentar

Em desesperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade

-Delacroix-guiando o Povo.


Seios que vão à escola p'ra de lá saírem

Direitinhos p'ra casa...


Seios que deram o bom leite da vida

A vorazes filhos alheios!


Diz-se rijo dum seio que, vencido,

Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:

"E hei-de mandar fazer um almanaque

da pele encadernado do teu seio"


Retirar-me para uns seios que me esperam

Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios

No peitoril de uma janela

Aberta sobre a vida.


Botas, botirrafas

Pisando tudo, até os seios

Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,


Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos

Altares onde fazem sacrifícios

Quantos os vêem com olhos indiscretos


"Raimundo Lúlio, a mulher casadaQue cortejastes, que perseguistes

Até entrares, a cavalo, p'la igreja

Onde fora rezar,

Mudou-te a vida quando te mostrou

("É isto que amas?")

De repente a podridão do seio.


Raparigas dos limões a oferecerem

Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,

Rabujando,A pretexto de chá...


Engolfo-me num seio até perder

Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,


Depressa ou devagar, roubou à vida,

À alegria, ao amor e às gulosas

Bocas dos miúdos!


Pouso a cabeça no teu seio

E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos

Sobre um pequeno ser

de Alexandre O Neill



Não posso

adiar o amor para outro século

não posso

ainda que o grito sufoque na garganta

ainda que o ódio estale e crepite e arda

sob as montanhas cinzentas




Não posso adiar este braço

que é uma arma de dois gumes amor e ódio


Não posso adiar

ainda que a noite pese séculos sobre as costas

e a aurora indecisa demore


não posso adiar para outro século a minha vida

nem o meu amor

nem o meu grito de libertação.


de António Ramos Rosa




Original é o poeta

que se origina a si mesmo

que numa sílaba é seta

noutro pasmo ou cataclismo

o que se atira ao poema

como se fosse um abismo

e faz um filho ás palavras

na cama do romantismo.


Original é o poeta

capaz de escrever um sismo


de Ary dos Santos



Como te Amo Garcia Lorca

como te amo ó poesia.
Posso dizer-te o indizível , e viajar.
Partir na estrada sem destino
cavalgando mil noites,
sonhando com pássaros de fogo
em florestas de paixão.
Apesar de tudo, e até que a morte chegue
a vida não me desiludiu.
Os homens sim!
Remeto esta carta sem destinatário
para quem a quiser ler.
Amo-te mulher
e não te amo.
Só na imensa multidão
não me quero apaixonar, apenas viver.
Tenho medo de sofrer.
Amar-te sim, como Garcia Lorca
amou a vida.

do autor

Viver é ser outro. Nem sentir é possivel se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.

Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua de emoção - isto, e só isto,vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.

Esta madrugada é a primeira do mundo.Nunca esta cor de rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora,nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que for será outra coisa,e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.

.... sois hoje,sois eu,porque vos vejo, sois o que (serei?) amanhã, e amo-vos da amurada como um navio que passa por outro navio e há saudades desconhecidas na paisagem.

de BERNARDO SOARES




Tempo Em Que Se MORRE

Agora é verão, eu sei.
Tempo de facas, tempo
em que perdem os anéis
as cobras à míngua de água.


Tempo em que se morre
de tanto olhar os barcos.


È no verão, repito.
Estás sentada no terraço
e para ti correm todos os meus rios.


Entraste pelos espelhos:
mal respiras.
Vê-se bem que já não sabes respirar,
que terás de aprender com as abelhas.
Sobre os gerânios
te debruças lentamente.
Com rumor de água
sonâmbula ou de arbusto decepado
dás-me de beber
um tempo assim ardente.

Pousas as mãos sobre o meu rosto,
e vais partir
sem nada me dizer,
pois só quiseste despertar em mim
a vocação do fogo ou do orvalho.


E devagar, sem te voltares
pelos espelhos entras na noite.

de Eugénio de Andrade





No meu amor canto a Liberdade
de amanhecer contigo em pensamento
e há uma palavra que rima com saudade
e ela tem a força deste forte vento .
No meu amor encanto a liberdade
com as palavras justas no momento certo
e não te minto , se te falo em alvoradas
quando nossas pernas estão entrelaçadas
e nossos corpos navegam enleados

do autor



A POESIA DAS PALAVRAS

NÃO CHEGA PARA DIZER COMO ESTOU FELIZ
POR TE TER ENCONTRADO .
EXPLODEM CAVALOS DE FOGO NO MEU PEITO
VOANDO VELOZES COMO PÉGASOS , NA TORMENTA DAS CORES DO PRISMA .
A TUA AMIZADE É - ME TÃO PRECIOSA
COMO ESMERALDAS NA SUA PUREZA DE MIL BRILHOS .
E O CÊU FICOU UM POUCO MAIS AZUL
APESAR DAS NUVENS QUE O TENTAM ENCOBRIR .
EM VÃO .
HÁ ESTADOS DE ALMA , QUE QUANDO SE VIVEM
SÃO COMO SE FOSSEM CANÇÕES DE MUSAS EM ILHAS PERDIDAS .
E SÓ ALGUNS SONHADORES
CONSEGUEM VIVÊ – LOS .
É PRECISO TER UNS OLHOS LINDOS COMO OS TEUS
DO TAMANHO DO MUNDO
PARA SENTIR . SIM PARA SENTIR .
SENSÍVEL COMO TU , CONHEÇO POUCAS PESSOAS
TRANSMITES –ME UMA PAZ LINDA .
LINDA , ALIÁS COMO TU .
POR ISSO TE AMO CALMAMENTE
DIA A DIA, SEM PRESSAS, INFINITAMENTE

do autor

Amar

Que pode uma criatura senão

entre criaturas, amar ?

amar e esquecer

amar e malamar,

amar, desamar, amar ?


sempre, e até de olhos vidrados, amar ?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também , e amar ?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia ?


Amar solenemente as palmas do deserto ,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito , o áspero,

um vaso sem flor , um chão de ferro ,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho , e uma ave de rapina.


Este o nosso destino : amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas e nulas ,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa ,

paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito , e a sede infinita.

de Carlos Drummond de Andrade


O CORPO , ERÓTICO NA PROXIMIDADE DA ÁGUA

SERÁ UM AREAL ESPERANDO A FÚRIA DA ESPUMA .

ATÉ O MEU SEXO FERIR

A SUA CONSISTENCIA APARENTE ,

ESTÁ DEITADO E IMÓVEL , DOURADO AOS MEUS OLHOS IMPACIENTES.


TORNAR-SE-Á ENTÃO MAIS AQUÁTICO

REPETINDO O MOVIMENTO REPETIDO DAS VAGAS

EMBALARÁ O DESEJO QUE O FEZ MOVER-SE


II


ESTÁS COMO UM ANIMAL A MEUS PÉS

E ENTREGAS-TE-ME COMO ÉS

A VIDA É SIMPLES E É SIMPLES AMÁ-LA

TUDO O MAIS NÃO PASSA DE CHARADAS :

DIALÉTICA NÃO COMPRA AMOR .


SOMOS DOIS ANIMAIS AMANDO-SE SEM CULPAS

E O MEDO QUE SENTIMOS É SÓ O NATURAL .

NÃO EMBELEZEMOS A VIDA PORQUE EMBELEZÁ-LA

É RETIRAR-LHE A BELEZA QUE ELA TEM E TU TAMBÉM .

Nova poesia brasileira



A poesia não se escreve
só com canetas
também com lápis, aparos a tinta da china
uma fotografia, um óleo que se dá
um som que se torna audível
um passo de dança para além do que é possível
um filme a muitas imagens por segundo
ou uma peça de teatro onde ninguém é todo o mundo.
Tudo isto é poesia.
È tudo, e o mais que houver.
Já que quase nada disse
Já que disse quase tudo.
E torna-se absurdo.

do autor

Quase que já conheço os teus silêncios.
Tudo o que dizes quando calas.
As tuas perigrinações astrais
quando sais do corpo,por momentos
e nos deixas a sós,comuns mortais.
serão silencios prolongados?
São momentos como esses, em que tu “escreves”
com tintas coloridas,
e fazes um mundo diferente só para nós.Quando traças numa folha o teu riscado
presinto o ser de uma pessoa notável
num desenho iluminado,
com um sol ao fundo, e duas almas voláteis.
Àfrica foi uma viagem.
Mais do que isso, uma voragem.
E os quadros que acalentas no sossego do teu lar,
são paisagens soltas.
E se lá voltares dir-te-ão:


“Haisikoti hasilambalawa kefuma
no K'omufuko wendobwa”

( as grandes rãs, ó chuva, saúdam a tua vinda, e as aves aquáticas também”)

do autor


Se a poesia fosse sangue
era só cortar as veias
e deixar-me ir.
O chão manchado de poemas
e o médico legista
que se punha a ler.

Mas a poesia é como fogo
é uma chama e arde sem se ver
é estar contigo na cama
e vir-me em ti e então morrer.

Afogar meu manto de mágoas
em poemas e sémen
que saboreias de gulosa
e ter-te assim tão ditosa
estrofe minha, a mais molhada.

Sentir teu cheiro a sexo molhado
nos meus lábios
e ter-te assim ó poesia.
Como vinho doce, em festa amarga
e uma sílaba em cada palavra
que se estraga.

do autor




O TEJO È O RIO DA MINHA ALDEIA

O Tejo não se escuta
é um silêncio a correr para o Bugio.
Uma calma com gaivotas
e uns pequenos pássaros brancos
que andam no lodo.

O Tejo é o rio da minha aldeia.
Umas centenas de Quilómetros quadrados
cerca de meio milhão de habitantes,
sete colinas e um Castelo,
e a tua casa no meio da cidade.

No meio da cidade não há silêncio,
junto ao Tejo sim.

Vejo poucos barcos.
Os marinheiros estão fechados em escritórios
fechados no betão
no meio das centenas de quilómetros quadrados
onde vive o tal meio milhão.
Onde não há silêncio.
Onde não se escutam as aves matinais
onde se não amanhece.

O Tejo é sem sombra de dúvida
o rio da minha aldeia.
Ruas pequenas, estreitas, de roupa estendida,
onde cheira a fruta
onde habita o sonho.

No meio da cidade
as avenidas engolem automóveis,
vorazes.
È onde se grita o protesto
onde tudo acontece.

No meio do Tejo a paz.
No meio da cidade vende-se amor barato,
e os heroínómanos injectam-se nas calçadas
com o despudor
do século XXI.

Nada de novo,nada de bom
numa cidade tão linda com pedaços apodrecidos.
Escorbuto de vidas
puz de sonhos, auténticos pesadelos.

È esta a cidade, bonita e feia
onde corre o rio que banha a minha aldeia.

do autor



Relembro aqui com saudade o Espaço Cefalópode nas noites de "Reverso da Palavra" com "Roda de Choro"

Noites em que dizia poesia para tanta gente apaixonada pela literatura


Apetece-me

Apetece-me deitar o meu corpo ao mar
e deixar que a tsunami
que me invade o ser e a geografia,
me afogue
lentamente,sem hipocresia.

Apetece-me fugir dos problemas
que me afligem
sem fugir deles, enfrentando-os.
Como o cavaleiro destemido
ou argonauta temerário
fazer da cruz, a cruz de um templário.

Apetece-me um bom copo de vinho
e uma foda a seguir.
Apetece-me fugir
pró Kosovo, ou para o Irão
sem saber porque partir
sem escolher o avião
com o passaporte na mão
e uma mala de cartão.
A fotografia do meu cão
e um livro
e para acompanhar Licor Beirão

O Licor de Portugal.

do autor





Espero que tenha gostado

Quis com este blog unir as pessoas em torno de 3 questões:

Direitos humanos, divulgar alguns movimentos alternativos na área da cultura, do ambiente, do ecoturismo, e pequenas factos relevantes, a que estão ligados amigos, e acima de tudo a poesia que escrevo , e alguma da belissima poesia que se vai fazendo, para manter viva a chama do REVERSO DA PALAVRA, movimento de poetas, ao qual pertenço com muito orgulho, que pretende unir os amigos, e criar correntes positivas.